Fraude no Farmácia Popular financiava tráfico internacional e operava com farmácias fantasmas
Investigação revela que rede criminosa usava laranjas e documentos falsos para simular venda de medicamentos subsidiados pelo governo.
Uma investigação da Polícia Federal, revelada com exclusividade pelo Fantástico no último domingo (20), apontou a existência de um esquema milionário de fraudes no Programa Farmácia Popular. A rede criminosa, além de desviar recursos públicos, era responsável por financiar o tráfico internacional de drogas.
As apurações indicam que o grupo operava por meio de farmácias fantasmas — empresas inativas que, apesar de não estarem em funcionamento real, permaneciam cadastradas no programa e continuavam a receber repasses do governo federal.
Laranjas, falsificações e lucros ilícitos
De acordo com a reportagem, os investigados compravam farmácias já desativadas e regularizavam seus cadastros junto ao Ministério da Saúde utilizando documentos falsificados. Para isso, contavam com o auxílio de despachantes e intermediários. Os estabelecimentos eram reativados formalmente e passavam a registrar vendas fictícias de medicamentos com subsídio do governo, mesmo sem atender nenhum paciente.
Com isso, as transferências de recursos, que deveriam ser destinadas à população em situação de vulnerabilidade, eram desviadas para as contas da organização. Em alguns casos, farmácias que haviam registrado R$ 5 mil por mês passaram a faturar mais de R$ 80 mil em curto período de tempo, segundo estimativas obtidas pelo Fantástico.
Dinheiro público financiando o tráfico
Além do desvio de verbas, a PF identificou que parte dos recursos era utilizada para custear operações do tráfico internacional de drogas. O dinheiro ilícito ajudava a financiar o transporte e distribuição de entorpecentes vindos de países como Bolívia, Colômbia e Peru.
A investigação apontou ainda que o esquema atuava em diversas regiões do Brasil e envolvia pelo menos 28 farmácias, com movimentação total estimada em R$ 39 milhões.
Medidas judiciais e continuidade da apuração
A Justiça Federal autorizou mandados de busca e apreensão, bloqueio de bens e prisões preventivas. O objetivo é recuperar parte dos valores desviados e impedir que os responsáveis continuem operando.
Apesar das medidas já adotadas, a Polícia Federal afirma que a investigação permanece em curso. Novos nomes podem ser incluídos no inquérito nos próximos dias.
Alerta sobre brechas no sistema
A descoberta do esquema também expõe fragilidades no sistema de controle do Farmácia Popular. O uso de empresas inativas e a facilidade para alterar cadastros oficiais sem fiscalização rigorosa foram fatores decisivos para o sucesso da fraude. Especialistas ouvidos pela reportagem do Fantástico alertaram para a necessidade de revisão nos mecanismos de acompanhamento e validação do programa.